quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

A Visão de Cada Um

Dois homens, muito enfermos, ocupavam uma mesma enfermaria em um grande hospital. Sua única comunicação com o mundo de fora era uma janela. Um deles tinha a sua cama perto da janela e todos os dias, tinha permissão para se sentar em sua cama, por algumas horas. Tudo como parte do tratamento dos pulmões. O outro, cuja cama ficava do lado oposto do pequeno cômodo ficava o dia todo deitado de barriga para cima.
Todas as tardes, quando o homem cuja cama ficava perto da janela era colocado sentado, ele passava a descrever para o companheiro de quarto o que havia lá fora.
Falava do grande parque, cheio de grama verde, de árvores frondosas e flores mais além, em canteiros bem cuidados. Descrevia o lago, onde havia patos e cisnes.
Falava das crianças que jogavam migalhas de pão para as aves, e dos barcos de brinquedo que coloriam as tardes de verão.
Falava dos casais de namorados que passeavam de mãos dadas entre as árvores, dos jogos de bola muito disputados entre a criançada.
Dizia que além da linha das árvores, ele podia ver um pouco da cidade, o contorno dos altos prédios contra o azul do céu.
O homem somente escutava e escutava. Houve um dia em que ouviu, preocupado, o caso de uma criança que quase caiu no lago, sendo salva a tempo por sua mãe.
Num outro dia, a descrição minuciosa foi a respeito dos lindos vestidos das moças que saudavam a primavera em flor.
O homem deitado quase podia ver o que o outro descrevia, tantos eram os detalhes e a emoção do companheiro sentado. E, aos poucos, foi se tomando de inveja. Por que somente o outro, que ficava perto da janela, podia ter aquele prazer? Por que ele também não podia ter aquela mesma oportunidade? Enquanto assim pensava, mais se envergonhava e, no entanto, não conseguia evitar que tais pensamentos o atormentassem.
Certa noite, enquanto estava ali olhando para o teto, como sempre, perceber que o outro começou a passar mal. Acordou tossindo, parecendo sufocar. Com desespero, o botão de emergência foi acionado. As enfermeiras correram. O médico veio. Nova aparelhagem respiratória foi providenciada, mas tudo em vão. O homem morreu. Pela manhã, seu corpo sem vida foi retirado dali. Então, o homem que permanecia sempre deitado, pediu para que o colocassem na cama do outro, próximo da janela.
Logo que assim foi feito e a enfermeira saiu do quarto, ele fez um grande esforço, apoiou-se sobre o cotovelo, na tentativa de se erguer no leito. A dor era intensa mas ele insistiu. Com muita dificuldade, ele olhou pela janela e viu... apenas um enorme, alto e feio muro de pedras nuas.
A vida tem o colorido que a pessoa lhe dá. A paisagem se torna cinzenta ou plena de luz de acordo com as lentes de que se serve a pessoa que a olha. Sofrer a enfermidade e se fechar na dor ou enfeitar de vivas cores o quadro em que se vive, é opção individual.
Há os que sofrem pouco e se desesperam, aumentando, desnecessariamente, sua carga de dissabores, com as lentes escuras e sombrias de que se servem para contemplar tudo e todos. Há os que sofrem muito e vivem tranquilos, padecem com serenidade.
Qual a diferença? As lentes com que olhamos o mundo ao nosso redor. Reflitamos nisto, e louvemos a Deus por tudo que nos deu.

(Autor ignorado)

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Uma sábia decisão

A pregação do evangelho deve ser feita sempre com base na evidência da presença do Espírito Santo e do poder de Deus na vida de quem o prega. Isto, porque a verdadeira fé tem seu fundamento legítimo, não na capacidade de persuasão da sabedoria humana, mas na experiência pessoal do poder de Deus.

Realizar a obra de Deus e andar no Espírito como Ele quer (Gl 5:16), exige de nós um ato da vontade. Paulo decidiu que não iria valer-se de sua sabedoria humana para compartilhar o evangelho com os gentios (1 Co 2:1-5). Ora, a decisão de andar no Espírito implica a decisão de negar-se a si mesmo, tomar dia a dia a cruz, e caminhar, junto a Cristo, rumo à morte do eu (Lc 9:23). Por isso, Paulo fez, voluntariamente, a escolha de andar entre eles em fraqueza, temor e grande tremor. Ele tinha uma razão muito forte para tomar esta decisão. Não queria que a fé daqueles novos irmãos se apoiasse sobre a sua capacidade humana. Ele sabia que poderia convencer a muitos com sua sabedoria, mas deliberadamente escolheu outro alicerce muito mais sólido: o poder de Deus.

Pela falta desta escolha, muitos, hoje em dia, tem experimentado desilusões com sua fé.


O fracasso de um líder, não raras vezes, implica a queda de muitos de seus liderados. Na verdade, o grande problema é exatamente o fato de a fé estar alicerçada, não sobre o poder de Deus, mas sobre a sabedoria humana de líderes falíveis.

Uma única coisa é necessária para a firmeza da fé. O conhecimento experimental de Jesus Cristo, e este crucificado. Busquemos, pois, dia a dia, aumentar este conhecimento, e para isso, tomemos a decisão sábia do apóstolo Paulo: Andemos entre os homens, aos quais temos o dever de testemunhar, em fraqueza, temor e tremor, pois “a intimidade do Senhor é para aqueles que o temem” (Sl 25:14). E, o seu poder “se aperfeiçoa na fraqueza” (2 Co 12:9).

Que Deus nos abençoe.


Rev. Renato Barbosa

domingo, 26 de outubro de 2008

Lutero e a Reforma Protestante

No dia 31 de outubro de 1517, o monge agostiniano Martin Luther, entre nós conhecido como Martinho Lutero, começou, quase que sem querer, o que ficou historicamente conhecido como a Reforma Protestante. Digo quase sem querer, porque Lutero não desejava dividir a igreja, e não planejou o que aconteceu posteriormente. Prova disso é que suas teses foram escritas em latim e eram um convite ao debate teológico, dirigido a outros monges e autoridades religiosas, com o único objetivo de levar a igreja a repensar sua prática e a corrigir-se diante de Deus e do povo. Sua principal preocupação era a venda das indulgências.

A indulgência é a remissão (parcial ou total) do castigo temporal imputado a alguém por conta dos seus pecados. Naquele tempo qualquer pessoa poderia comprar uma indulgência, quer para si mesmo, quer para um parente já morto que estivesse no Purgatório. O frade Johann Tetzel fora recrutado para viajar através dos territórios episcopais do arcebispo Alberto de Mogúncia, promovendo e vendendo indulgências com o objetivo de financiar as reformas da Basílica de São Pedro, em Roma.

Lutero viu este tráfico de indulgências como um abuso que poderia confundir as pessoas e levá-las a confiar apenas nas indulgências, deixando de lado a confissão e o arrependimento verdadeiros. Proferiu, então, três sermões contra as indulgências em 1516 e 1517. Segundo a tradição, a 31 de outubro de 1517 foram pregados as 95 Teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, com um convite aberto ao debate sobre elas. Essas teses condenavam a avareza e o paganismo na Igreja como um abuso, e pediam um debate teológico sobre o que as Indulgências significavam. Para todos os efeitos, contudo, nelas Lutero não questionava diretamente a autoridade do Papa para conceder as tais indulgências.

As 95 Teses foram logo traduzidas para o alemão e amplamente copiadas e impressas. Ao cabo de duas semanas se haviam espalhado por toda a Alemanha e, em dois meses, por toda a Europa. Este foi o primeiro episódio da História em que a imprensa teve papel fundamental, pois facilita a distribuição simples e ampla de qualquer documento.


(
http://pt.wikipedia.org/wiki/Martinho_Lutero)

Atualmente vemos que a necessidade de repensar as práticas da igreja é urgente. Não temos mais ninguém vendendo indulgências pelas ruas, mas temos pregadores indulgentes e milionários, diga-se de passagem, oferecendo todo tipo de benefício espiritual e material, em troca de uma oferta generosa. Temos pregadores, estrelas da mídia, cobrando R$ 6.000,00 (sim, seis mil reais!) por uma mensagem cuja cópia depois é vendida pelo preço módico de aproximadamente R$ 30,00 a unidade. Fazem isso esquecidos de que a Palavra de Deus diz: “... de graça recebestes de graça daí...”. Ainda gastam um tempão na mídia ameaçando com todas as pragas do inferno os que não respeitarem seus direitos autorais sobre a inspiração do sermão pregado no DVD e piratearem a Palavra, que deixou de pertencer a Deus, e agora é propriedade autoral dos mesmos.

Lutero amava a Deus, amava a Palavra de Deus e amava a igreja. Foi excomungado, perseguido e até hoje é difamado em certos círculos que não admitem a reforma da igreja, porque ela tira dos que estão lucrando com o erro e o pecado suas fontes de lucro. Também hoje, muitos dos que amam a Deus, amam a Palavra de Deus, e amam a igreja estão em muitos lugares sendo perseguidos e difamados, pois com a reforma da igreja, têm a possibilidade de tirar dos que estão lucrando, com decadência moral e espiritual, sua principal fonte de lucro.

Busquemos em Deus a sabedoria para perceber o que precisa ser mudado em nossa prática eclesiástica, e a coragem para mudar o que ele nos revelar.

Que Deus nos abençoe.

Rev. Renato Barbosa

sábado, 18 de outubro de 2008

Guardando o que é essencial.

"Guardo no coração a Tua
Palavra para não pecar contra Ti".
Sl 119:11

Quem guarda alguma coisa busca tanto a sua preservação quanto a possibilidade de conservar a posse. Independente de classe social, cor, raça, nacionalidade e qualquer outro diferencial humano que se queira pensar, cada pessoa têm valores, objetivos ou subjetivos, que deseja guardar.

O salmista não era diferente quanto a isso. Ele também tinha o que guardar. Ao contrário de tantos outros, porém, ele guardava algo que muitos dos que se dizem cristãos desprezam: a Palavra de Deus. Quando digo que muitos desprezam, refiro-me ao pouco ou nenhum esforço realizado pelo povo de Deus para interiorizar a Palavra, através da leitura, reflexão e esforço de memorização.

É fácil verificar, na prática, a realidade do que estou dizendo. Basta tão somente uma volta pelo interior dos templos, após os cultos de domingo à noite. Em muitas igrejas os zeladores são obrigados a recolher e guardar Bíblias esquecidas, cujos donos, às vezes, passam a semana inteira sem dar pela falta das mesmas.


Ora, o salmista guardava a Palavra de Deus em lugar especial: “no coração”. Ele tinha também um objetivo muito especial para assim fazer: “não pecar contra Ti”. Entre os homens é comum guardar valores monetários em bancos ou cofres, com o objetivo de evitar as perdas ocasionadas pelo roubo. Isso tem sua contrapartida espiritual. O Senhor Jesus ensinou que a “semente” é a Palavra de Deus. “A que caiu a beira do caminho são os que a ouviram; vem a seguir o diabo e arrebata-lhes do coração a Palavra, para não suceder que, crendo, sejam salvos“ (Mt 8;11-12).

A Palavra de Deus é semente preciosa que germina e gera frutos, produz uma qualidade de vida diferente. Uma vida marcada por valores divinos, através da qual Cristo é glorificado, sua igreja é edificada e o mundo alcançado de forma eficiente através do testemunho de servos transformados. Isso é tudo o que Satanás não quer, por isso ele vai continuar investindo esforços para que você “esqueça” a Palavra de Deus no templo, ao invés de guardá-la cuidadosamente no coração.

Invista em você mesmo! Guarde a Palavra de Deus no coração e viva de maneira sobrenatural.
Soli Deo Glória.

Rev. Renato Barbosa

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Combate o bom combate!

Este é o dever de que te encarrego, ó filho Timóteo, segundo
as profecias de que antecipadamente foste objeto:
Combate, firmado nelas, o bom combate, mantendo fé e boa
consciência, porquanto alguns, tendo rejeitado a boa

consciência vieram a naufragar na fé.
1 Tm 1:18-19

Estamos em guerra. O mundo jaz no maligno (1 Jo 5:19), e cada um de nós foi escolhido por Deus para participar dos combates, dia a dia, até aquele glorioso momento em que, ao soar da trombeta, os anjos anunciarão: “O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos” (Ap 11:15).

É preciso, porém, entender que não fomos chamados para um combate qualquer. Não nos chamou Deus para combatermos uns contra os outros, por causa de opiniões diferentes que possamos ter acerca de quaisquer assuntos, nem mesmo quando essas envolvem detalhes relacionados à sua obra. No que diz respeito ao convívio em sua igreja, ordenou-nos a unidade (João 17:15-21). Portando, o bom combate não nos coloca diante de adversários humanos, mas contra seres espirituais poderosos, que habitam as regiões celestiais (Ef 6:12) e que, exercem um alto grau de controle sobre este mundo em que vivemos.

Como nossos adversários não são humanos, não podemos pretender vencê-los se insistirmos em usar recursos humanos. O apóstolo Paulo nos ensina que nossas armas não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando sofismas e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo (2 Co 10:4-5).

Ora, isto significa que tais fortalezas satânicas se encontram na mente do homem, pois é lá que estão alojados os pensamentos que devem ser feitos prisioneiros obedientes de Cristo. Fortalezas são, portanto, as convicções anti-bíblicas que satanás introduz na mente dos homens, e que lhe permite controlar, até certo ponto, o seu comportamento, levando-os ao pecado e a uma vida de derrotas.

Tais fortificações satânicas existem nas mentes dos incrédulos em grande abundância, mas podem também existir nas mentes dos cristãos. É por isso que o apóstolo orienta-nos a nos transformarmos pela renovação da nossa mente (Rm 12:1-2).

Toda desavença entre crentes pode ter por trás de si uma fortaleza satânica. De acordo com Tiago, nossas guerras e contendas procedem de prazeres que militam em nossa carne, aos quais nos apegamos, e que ele qualifica como inimizade contra Deus (Tg 4:1-10).

Outro sinal indicativo da existência de fortalezas, ou padrões de pensamento contrários à Palavra de Deus, profundamente arraigados na mente de muitos cristãos, é sua profunda recusa em acreditar que Deus possa usá-los em sua obra, em função das condições e limitações específicas de suas vidas.

Satanás faz de tudo para que acreditem que não são capazes de realizar os desafios que a obra de Deus lhes propõe. E muitos, ignorando as promessas de Deus, esquecem-se que: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4:13) e chegam a passar anos a fio, sem testemunhar verbalmente acerca do amor de Cristo.

Outra evidência da existência de fortalezas satânicas é o pouco caso de muitos com relação aos imperativos divinos relacionados à santidade pessoal. Ter uma consciência tranqüila diante de Deus é essencial para uma vida vitoriosa.

Quantos têm vivido em dissoluções e contendas, criticando, ferindo, tornando a vida dos outros insuportável com suas práticas pecaminosas, seus gritos, suas calúnias, suas maledicências de toda sorte, enquanto crêem que, por terem se batizado em uma igreja evangélica, Deus está do seu lado e ignora seus padrões de vida pecaminosos. Triste ilusão, pois a maneira como tratamos os filhos de Deus a quem vemos, é sinal claro de como tratamos o próprio Deus a quem não vemos (Jo 4:20).

É, pois, imprescindível levar tais padrões de pensamento cativos a presença de Cristo. O apóstolo João nos adverte sobre a necessidade de não nos deixarmos enganar pelo diabo. E o sinal claro da evidência é “... aquele que pratica o pecado procede do diabo” (1Jo 3:7-8). Ter uma boa consciência é ter paz com Deus. Muitas vezes, por medo, ninguém nos diz onde estamos errando. Nosso coração, porém, é implacável, basta sondá-lo para descobrirmos a verdade (1 Jo 3:18-20)

A boa consciência é como o barquinho que, em meio as ondas do mar revolto, nos permite travar os maiores combates, sem o risco de naufragar. Se mantivermos boa consciência, atravessaremos o mar da vida, combateremos o bom combate, conquistaremos vitórias importantes para o reino de Deus, seremos frutíferos e realizaremos as obras que Deus nos confiou. Ao fim, sem perder, nem a calma nem a esperança, com uma fé inabalável, aportaremos em segurança, em uma praia de águas mansas e límpidas, onde o Salvador, de braços abertos, nos receberá dizendo: “... Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo (Mt 25:34). Soli Deo Glória.


Rev. Renato Barbosa

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

A Grande Comissão - parte II

Jesus Cristo, ao despedir-se dos seus discípulos, deu-lhes uma ordem que ficou conhecida como a grande comissão. A ordem em questão é clara. Fazei discípulos! E, junto com a ordem, temos também determinados os passos necessários para cumprirmos a missão a nós designada: indo, batizando e ensinando.

Uma rápida análise dos três verbos, evidencia a existência de três ministérios envolvidos no cumprimento da Grande Comissão (cf. Mt 28:18-20). Primeiramente, salta aos olhos, o ministério do evangelismo. Ministério que é essencialmente externo, pois aqueles que precisam ser evangelizados estão do lado de fora da igreja. Não pertencem ao corpo místico de Cristo. Têm, portanto, necessidades diferentes daqueles que estão do lado de dentro. Precisam ser salvos. Precisam ser alcançados onde estão. Isto fica claramente definido quando Jesus diz: Ide por todo o mundo. É claro que ir por todo mundo implica em sair da nossa zona de conforto. Isto é verdade tanto no que diz respeito à distancia geográfica, quanto no que diz respeito à distancia cultural. Para cumprir este primeiro ministério é preciso ir. Ir onde eles estão. Isto, hoje em dia, inclui também o mundo virtual, no qual precisamos avançar.

Durante séculos, a igreja amargou fracassos em sua missão evangelística porque os missionários estavam dispostos a abrir mão de seu espaço geográfico para ir onde estavam fisicamente os incrédulos, mas recusavam-se a caminhar a mesma distância cultural que os separava. Graças a Deus o conceito de missões transculturais hoje é uma realidade, e nossos missionários são treinados para absorver totalmente a cultura dos povos aos quais se dirigem, antes de lhes comunicar a Palavra de Deus. Como missionários urbanos, em um mundo em que as diferentes culturas passam a conviver, este é um desafio que temos que nos preparar para enfrentar.


O segundo ministério que encontramos no texto é o ministério da integração. Batizar em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo é, em outras palavras, inserir ou integrar o novo convertido no corpo místico de Cristo. É bem verdade que, no modelo de igreja moderna da qual fazemos parte, a tarefa específica de batizar, na maioria das igrejas, pertence ao pastor. Também é verdade, no entanto, que entre a conversão e o batismo há todo um período caracterizado pela insegurança, pela necessidade de apoio emocional, espiritual, de conhecer, ser conhecido e de aprender na prática a amar e a sentir-se amado, por pessoas que até pouco tempo antes eram totalmente desconhecidas. Este ministério, só a igreja pode realizar. Nenhuma liderança ou classe de estudos bíblicos para novos convertidos conseguirá ensinar alguém a sentir-se amado e integrado se, na verdade, a igreja não estiver engajada na nessa tarefa.

O terceiro ministério em questão, essencialmente interno, é o ministério do ensino. É diferente do primeiro e do segundo, pois o irmão já convertido, porém ainda não batizado, não está totalmente no mundo (lado de fora) nem em plena comunhão com a igreja (lado de dentro). O novo convertido uma vez batizado (integrado) está totalmente inserido no corpo místico de Cristo (lado de dentro), com todos os direitos e deveres inerentes a sua nova condição diante de Deus e do mundo. Não queremos dizer que não haja ensino no evangelismo ou na integração. O que afirmamos é que, uma vez convertido e integrado, sua necessidade de aprendizado é diferente de antes. Anteriormente era necessário ensinar para salvar. Agora, a necessidade de ensino é para a edificação.

O incrédulo precisa aprender que Jesus salva. O servo de Deus precisa aprender como transmitir esta informação de modo eficaz. Os ímpios precisam ser alcançados, convertidos e integrados; os cristãos precisam aprender a “guardar todas as coisas que vos tenho ensinado” (cf. Mt 28:20a). E, entre “todas as coisas” estão as ordens de ir (indo), integrar (batizando) e capacitar (ensinando) outras pessoas para que, por sua vez, façam o mesmo com outros, e assim, sucessivamente, até o dia do retorno triunfal de nosso Senhor Jesus Cristo. Nenhum de nós tem, por si mesmo, a capacidade para bem cumprir esta grandiosa tarefa, mas, com a capacitação dada pelo Senhor, todos podemos nos engajar na sua realização. Que o Senhor nos abençoe e nos ajude nesta estupenda tarefa.

Rev. Renato Barbosa

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

A Grande Comissão

O texto bíblico referente a assim chamada GRANDE COMISSÃO, diz em sua simplicidade sagrada: “Jesus, aproximando-se, falou-lhes dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século” (cf. Mt 28:18-20).

Em muitas igrejas tem sido dada uma ênfase errada e exagerada acerca do “Ide” de Jesus. Não que o “ide” não tenha importância, ou que, de fato, outros textos o coloquem no tempo imperativo. Mas, na Grande Comissão não é isso que acontece. Estes versículos têm sido chamados de “A Grande Comissão” por teólogos de todas as denominações, de todos os tempos e em todas as partes do mundo por algumas razões básicas. Em primeiro lugar, é o único texto dos evangelhos em que Jesus, antes de dar uma ordem afirma sua absoluta autoridade. Ele diz: “Toda autoridade me foi dada no céu e na terra”. Se esta ordem de Jesus estivesse em pé de igualdade com todas as outras, não haveria necessidade de uma tal ênfase em sua autoridade para ordenar. Afinal de contas, ele estava ressurreto, na presença de seus discípulos, e nos momentos que precediam sua ascensão aos céus. Era impossível que seus discípulos não cressem e não o obedecessem após assistir a sua partida. É bem verdade que alguns duvidaram, quando o viram inicialmente, mas seria inconcebível considerar que tal dúvida fosse possível ao final daquele memorável encontro.

Em segundo lugar, vem a questão dos tempos verbais. Em algumas de nossas mais tradicionais traduções para o português, aparecem dois verbos no imperativo (ide e fazei), e dois no gerúndio (batizando e ensinando). Ao lermos o texto em português, portanto, temos a impressão de que Jesus deixou duas ordens: a de ir (evangelizar) e a de fazer discípulos. Historicamente este erro de tradução tem trazido conseqüências não muito benéficas para a igreja, pois, na hora de decidir qual das ordens da Grande Comissão era mais importante, a maioria das igrejas considerou que era mais importante evangelizar do que discipular. Este raciocínio gerou uma estrutura eclesiástica capaz de enviar missionários, ganhar almas e fundar novas igrejas - o que é ótimo. Porém pouco se faz para discipular aqueles que estão sendo salvos. Isso é péssimo. É péssimo porque tal estrutura formou uma geração inteira de cristãos que, em sua maioria, após décadas dentro da igreja, ainda não conseguem compartilhar a sua fé e levar outras pessoas a conhecer Jesus Cristo.

A Grande Comissão, contudo, é composta de apenas uma ordem. A verdadeira ordem de Jesus, na Grande Comissão é a ordem de fazer discípulos. O texto grego, língua original em que os evangelhos foram escritos, traz os quatros verbos, sendo que apenas um está no imperativo, indicando qual é a ordem do Senhor: é a forma verbal fazei. Fazer discípulos, portanto, é a grande ordem de Jesus. Os outros três verbos, incluindo o nosso famoso “ide”, estão no gerúndio, indicando não o que fazer, mas, “como” fazer para cumprir a ordem do Salvador. Uma tradução mais correta seria: “Indo, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado...”

A nossa missão como igreja, portanto, não é simplesmente evangelizar e alcançar pessoas com a mensagem de Jesus Cristo. Alcançar pessoas é apenas parte do processo. Fazemos discípulos indo ao mundo, integrando os que ouvem e aceitam a mensagem acerca do amor de Cristo, ajudando-os a crescer no conhecimento da graça de nosso Senhor. Quando os que aceitarem a Jesus estiverem integrados e, guardando tudo o que Jesus ordenou, inclusive a ordem de fazer outros discípulos, então estaremos finalmente cumprindo a Grande Comissão - que deixará de ser A Grande Omissão da Igreja Contemporânea.
Rev. Renato Barbosa