sexta-feira, 19 de setembro de 2008

A Grande Comissão - parte II

Jesus Cristo, ao despedir-se dos seus discípulos, deu-lhes uma ordem que ficou conhecida como a grande comissão. A ordem em questão é clara. Fazei discípulos! E, junto com a ordem, temos também determinados os passos necessários para cumprirmos a missão a nós designada: indo, batizando e ensinando.

Uma rápida análise dos três verbos, evidencia a existência de três ministérios envolvidos no cumprimento da Grande Comissão (cf. Mt 28:18-20). Primeiramente, salta aos olhos, o ministério do evangelismo. Ministério que é essencialmente externo, pois aqueles que precisam ser evangelizados estão do lado de fora da igreja. Não pertencem ao corpo místico de Cristo. Têm, portanto, necessidades diferentes daqueles que estão do lado de dentro. Precisam ser salvos. Precisam ser alcançados onde estão. Isto fica claramente definido quando Jesus diz: Ide por todo o mundo. É claro que ir por todo mundo implica em sair da nossa zona de conforto. Isto é verdade tanto no que diz respeito à distancia geográfica, quanto no que diz respeito à distancia cultural. Para cumprir este primeiro ministério é preciso ir. Ir onde eles estão. Isto, hoje em dia, inclui também o mundo virtual, no qual precisamos avançar.

Durante séculos, a igreja amargou fracassos em sua missão evangelística porque os missionários estavam dispostos a abrir mão de seu espaço geográfico para ir onde estavam fisicamente os incrédulos, mas recusavam-se a caminhar a mesma distância cultural que os separava. Graças a Deus o conceito de missões transculturais hoje é uma realidade, e nossos missionários são treinados para absorver totalmente a cultura dos povos aos quais se dirigem, antes de lhes comunicar a Palavra de Deus. Como missionários urbanos, em um mundo em que as diferentes culturas passam a conviver, este é um desafio que temos que nos preparar para enfrentar.


O segundo ministério que encontramos no texto é o ministério da integração. Batizar em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo é, em outras palavras, inserir ou integrar o novo convertido no corpo místico de Cristo. É bem verdade que, no modelo de igreja moderna da qual fazemos parte, a tarefa específica de batizar, na maioria das igrejas, pertence ao pastor. Também é verdade, no entanto, que entre a conversão e o batismo há todo um período caracterizado pela insegurança, pela necessidade de apoio emocional, espiritual, de conhecer, ser conhecido e de aprender na prática a amar e a sentir-se amado, por pessoas que até pouco tempo antes eram totalmente desconhecidas. Este ministério, só a igreja pode realizar. Nenhuma liderança ou classe de estudos bíblicos para novos convertidos conseguirá ensinar alguém a sentir-se amado e integrado se, na verdade, a igreja não estiver engajada na nessa tarefa.

O terceiro ministério em questão, essencialmente interno, é o ministério do ensino. É diferente do primeiro e do segundo, pois o irmão já convertido, porém ainda não batizado, não está totalmente no mundo (lado de fora) nem em plena comunhão com a igreja (lado de dentro). O novo convertido uma vez batizado (integrado) está totalmente inserido no corpo místico de Cristo (lado de dentro), com todos os direitos e deveres inerentes a sua nova condição diante de Deus e do mundo. Não queremos dizer que não haja ensino no evangelismo ou na integração. O que afirmamos é que, uma vez convertido e integrado, sua necessidade de aprendizado é diferente de antes. Anteriormente era necessário ensinar para salvar. Agora, a necessidade de ensino é para a edificação.

O incrédulo precisa aprender que Jesus salva. O servo de Deus precisa aprender como transmitir esta informação de modo eficaz. Os ímpios precisam ser alcançados, convertidos e integrados; os cristãos precisam aprender a “guardar todas as coisas que vos tenho ensinado” (cf. Mt 28:20a). E, entre “todas as coisas” estão as ordens de ir (indo), integrar (batizando) e capacitar (ensinando) outras pessoas para que, por sua vez, façam o mesmo com outros, e assim, sucessivamente, até o dia do retorno triunfal de nosso Senhor Jesus Cristo. Nenhum de nós tem, por si mesmo, a capacidade para bem cumprir esta grandiosa tarefa, mas, com a capacitação dada pelo Senhor, todos podemos nos engajar na sua realização. Que o Senhor nos abençoe e nos ajude nesta estupenda tarefa.

Rev. Renato Barbosa

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

A Grande Comissão

O texto bíblico referente a assim chamada GRANDE COMISSÃO, diz em sua simplicidade sagrada: “Jesus, aproximando-se, falou-lhes dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século” (cf. Mt 28:18-20).

Em muitas igrejas tem sido dada uma ênfase errada e exagerada acerca do “Ide” de Jesus. Não que o “ide” não tenha importância, ou que, de fato, outros textos o coloquem no tempo imperativo. Mas, na Grande Comissão não é isso que acontece. Estes versículos têm sido chamados de “A Grande Comissão” por teólogos de todas as denominações, de todos os tempos e em todas as partes do mundo por algumas razões básicas. Em primeiro lugar, é o único texto dos evangelhos em que Jesus, antes de dar uma ordem afirma sua absoluta autoridade. Ele diz: “Toda autoridade me foi dada no céu e na terra”. Se esta ordem de Jesus estivesse em pé de igualdade com todas as outras, não haveria necessidade de uma tal ênfase em sua autoridade para ordenar. Afinal de contas, ele estava ressurreto, na presença de seus discípulos, e nos momentos que precediam sua ascensão aos céus. Era impossível que seus discípulos não cressem e não o obedecessem após assistir a sua partida. É bem verdade que alguns duvidaram, quando o viram inicialmente, mas seria inconcebível considerar que tal dúvida fosse possível ao final daquele memorável encontro.

Em segundo lugar, vem a questão dos tempos verbais. Em algumas de nossas mais tradicionais traduções para o português, aparecem dois verbos no imperativo (ide e fazei), e dois no gerúndio (batizando e ensinando). Ao lermos o texto em português, portanto, temos a impressão de que Jesus deixou duas ordens: a de ir (evangelizar) e a de fazer discípulos. Historicamente este erro de tradução tem trazido conseqüências não muito benéficas para a igreja, pois, na hora de decidir qual das ordens da Grande Comissão era mais importante, a maioria das igrejas considerou que era mais importante evangelizar do que discipular. Este raciocínio gerou uma estrutura eclesiástica capaz de enviar missionários, ganhar almas e fundar novas igrejas - o que é ótimo. Porém pouco se faz para discipular aqueles que estão sendo salvos. Isso é péssimo. É péssimo porque tal estrutura formou uma geração inteira de cristãos que, em sua maioria, após décadas dentro da igreja, ainda não conseguem compartilhar a sua fé e levar outras pessoas a conhecer Jesus Cristo.

A Grande Comissão, contudo, é composta de apenas uma ordem. A verdadeira ordem de Jesus, na Grande Comissão é a ordem de fazer discípulos. O texto grego, língua original em que os evangelhos foram escritos, traz os quatros verbos, sendo que apenas um está no imperativo, indicando qual é a ordem do Senhor: é a forma verbal fazei. Fazer discípulos, portanto, é a grande ordem de Jesus. Os outros três verbos, incluindo o nosso famoso “ide”, estão no gerúndio, indicando não o que fazer, mas, “como” fazer para cumprir a ordem do Salvador. Uma tradução mais correta seria: “Indo, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado...”

A nossa missão como igreja, portanto, não é simplesmente evangelizar e alcançar pessoas com a mensagem de Jesus Cristo. Alcançar pessoas é apenas parte do processo. Fazemos discípulos indo ao mundo, integrando os que ouvem e aceitam a mensagem acerca do amor de Cristo, ajudando-os a crescer no conhecimento da graça de nosso Senhor. Quando os que aceitarem a Jesus estiverem integrados e, guardando tudo o que Jesus ordenou, inclusive a ordem de fazer outros discípulos, então estaremos finalmente cumprindo a Grande Comissão - que deixará de ser A Grande Omissão da Igreja Contemporânea.
Rev. Renato Barbosa