terça-feira, 24 de março de 2009

A Tragédia da Guanabara

No final de 1555, chegou Baía da Guanabara uma expedição francesa comandada pelo vice-almirante Nicolas Durand de Villegaignon, para fundar a "França Antártica." Esse empreendimento teve o apoio do almirante huguenote Gaspard de Coligny, que seria morto no massacre do dia de S o Bartolomeu (24-08-1572).

Em resposta a uma carta de Villegaignon, Calvino e a igreja de Genebra enviaram um grupo de crentes reformados, sob a liderança dos pastores Pierre Richier e Guillaume Chartier (1557). Fazia parte do grupo o sapateiro Jean de Léry, que mais tarde estudou na Academia de Genebra e tornou-se pastor (†1611). Ele escreveria um relato da expedição, História de uma Viagem Terra do Brasil, publicado em Paris em 1578.

No dia 7 de março de 1557 chegaram Guanabara os huguenotes (calvinistas franceses) e vieram com o propósito de ajudar a estabelecer um refúgio para os calvinistas perseguidos na França. Em 10 de março de 1557, esses reformados celebraram o primeiro culto evangélico do Brasil e no dia 21 de março celebraram a primeira Santa Ceia. Todavia, pouco tempo depois Villegaignon entrou em conflito com as calvinistas acerca dos sacramentos e os expulsou da pequena ilha em que se encontravam.

Alguns meses depois, os colonos reformados embarcaram de volta para a França. Quando o navio ameaçou naufragar por excesso de passageiros e por ter pouca comida, cinco deles resolveram voltar para que o pequeno barco pudesse prosseguir e salvar a vida dos que ficaram no barco, famílias que foram enganadas por Willegaignon. Esses cinco se sacrificaram em favor dos seus irm os na fé. Assim que chegaram terra foram presos: Jean du Bordel, Matthieu Verneuil, Pierre Bourdon, André Lafon e Jacques le Balleur.
Pressionados por Villegaignon, foram obrigados a professar por escrito sua fé, no prazo de doze horas, respondendo uma série de perguntas que lhes foram entregues. Eles assim o fizeram, e escreveram a primeira confiss o de fé na América, sabendo que com ela estavam assinando a própria sentença de morte. Essa belíssima declaração de suas convicções é conhecida como a "Confissão de Fé da Guanabara" (1558). Em seguida, os três primeiros foram mortos e Lafon, o único alfaiate da colônia, teve a vida poupada. Foram enforcados e seus corpos atirados de um despenhadeiro. Balleur fugiu para São Vicente, SP, foi preso e levado para Salvador (1559-67), sendo mais tarde enforcado no Rio de Janeiro, quando os últimos franceses foram expulsos.

A França Antártica é considerada como a primeira tentativa de estabelecer tanto uma igreja quanto um trabalho missionário protestante na América Latina.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

A Visão de Cada Um

Dois homens, muito enfermos, ocupavam uma mesma enfermaria em um grande hospital. Sua única comunicação com o mundo de fora era uma janela. Um deles tinha a sua cama perto da janela e todos os dias, tinha permissão para se sentar em sua cama, por algumas horas. Tudo como parte do tratamento dos pulmões. O outro, cuja cama ficava do lado oposto do pequeno cômodo ficava o dia todo deitado de barriga para cima.
Todas as tardes, quando o homem cuja cama ficava perto da janela era colocado sentado, ele passava a descrever para o companheiro de quarto o que havia lá fora.
Falava do grande parque, cheio de grama verde, de árvores frondosas e flores mais além, em canteiros bem cuidados. Descrevia o lago, onde havia patos e cisnes.
Falava das crianças que jogavam migalhas de pão para as aves, e dos barcos de brinquedo que coloriam as tardes de verão.
Falava dos casais de namorados que passeavam de mãos dadas entre as árvores, dos jogos de bola muito disputados entre a criançada.
Dizia que além da linha das árvores, ele podia ver um pouco da cidade, o contorno dos altos prédios contra o azul do céu.
O homem somente escutava e escutava. Houve um dia em que ouviu, preocupado, o caso de uma criança que quase caiu no lago, sendo salva a tempo por sua mãe.
Num outro dia, a descrição minuciosa foi a respeito dos lindos vestidos das moças que saudavam a primavera em flor.
O homem deitado quase podia ver o que o outro descrevia, tantos eram os detalhes e a emoção do companheiro sentado. E, aos poucos, foi se tomando de inveja. Por que somente o outro, que ficava perto da janela, podia ter aquele prazer? Por que ele também não podia ter aquela mesma oportunidade? Enquanto assim pensava, mais se envergonhava e, no entanto, não conseguia evitar que tais pensamentos o atormentassem.
Certa noite, enquanto estava ali olhando para o teto, como sempre, perceber que o outro começou a passar mal. Acordou tossindo, parecendo sufocar. Com desespero, o botão de emergência foi acionado. As enfermeiras correram. O médico veio. Nova aparelhagem respiratória foi providenciada, mas tudo em vão. O homem morreu. Pela manhã, seu corpo sem vida foi retirado dali. Então, o homem que permanecia sempre deitado, pediu para que o colocassem na cama do outro, próximo da janela.
Logo que assim foi feito e a enfermeira saiu do quarto, ele fez um grande esforço, apoiou-se sobre o cotovelo, na tentativa de se erguer no leito. A dor era intensa mas ele insistiu. Com muita dificuldade, ele olhou pela janela e viu... apenas um enorme, alto e feio muro de pedras nuas.
A vida tem o colorido que a pessoa lhe dá. A paisagem se torna cinzenta ou plena de luz de acordo com as lentes de que se serve a pessoa que a olha. Sofrer a enfermidade e se fechar na dor ou enfeitar de vivas cores o quadro em que se vive, é opção individual.
Há os que sofrem pouco e se desesperam, aumentando, desnecessariamente, sua carga de dissabores, com as lentes escuras e sombrias de que se servem para contemplar tudo e todos. Há os que sofrem muito e vivem tranquilos, padecem com serenidade.
Qual a diferença? As lentes com que olhamos o mundo ao nosso redor. Reflitamos nisto, e louvemos a Deus por tudo que nos deu.

(Autor ignorado)

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Uma sábia decisão

A pregação do evangelho deve ser feita sempre com base na evidência da presença do Espírito Santo e do poder de Deus na vida de quem o prega. Isto, porque a verdadeira fé tem seu fundamento legítimo, não na capacidade de persuasão da sabedoria humana, mas na experiência pessoal do poder de Deus.

Realizar a obra de Deus e andar no Espírito como Ele quer (Gl 5:16), exige de nós um ato da vontade. Paulo decidiu que não iria valer-se de sua sabedoria humana para compartilhar o evangelho com os gentios (1 Co 2:1-5). Ora, a decisão de andar no Espírito implica a decisão de negar-se a si mesmo, tomar dia a dia a cruz, e caminhar, junto a Cristo, rumo à morte do eu (Lc 9:23). Por isso, Paulo fez, voluntariamente, a escolha de andar entre eles em fraqueza, temor e grande tremor. Ele tinha uma razão muito forte para tomar esta decisão. Não queria que a fé daqueles novos irmãos se apoiasse sobre a sua capacidade humana. Ele sabia que poderia convencer a muitos com sua sabedoria, mas deliberadamente escolheu outro alicerce muito mais sólido: o poder de Deus.

Pela falta desta escolha, muitos, hoje em dia, tem experimentado desilusões com sua fé.


O fracasso de um líder, não raras vezes, implica a queda de muitos de seus liderados. Na verdade, o grande problema é exatamente o fato de a fé estar alicerçada, não sobre o poder de Deus, mas sobre a sabedoria humana de líderes falíveis.

Uma única coisa é necessária para a firmeza da fé. O conhecimento experimental de Jesus Cristo, e este crucificado. Busquemos, pois, dia a dia, aumentar este conhecimento, e para isso, tomemos a decisão sábia do apóstolo Paulo: Andemos entre os homens, aos quais temos o dever de testemunhar, em fraqueza, temor e tremor, pois “a intimidade do Senhor é para aqueles que o temem” (Sl 25:14). E, o seu poder “se aperfeiçoa na fraqueza” (2 Co 12:9).

Que Deus nos abençoe.


Rev. Renato Barbosa

domingo, 26 de outubro de 2008

Lutero e a Reforma Protestante

No dia 31 de outubro de 1517, o monge agostiniano Martin Luther, entre nós conhecido como Martinho Lutero, começou, quase que sem querer, o que ficou historicamente conhecido como a Reforma Protestante. Digo quase sem querer, porque Lutero não desejava dividir a igreja, e não planejou o que aconteceu posteriormente. Prova disso é que suas teses foram escritas em latim e eram um convite ao debate teológico, dirigido a outros monges e autoridades religiosas, com o único objetivo de levar a igreja a repensar sua prática e a corrigir-se diante de Deus e do povo. Sua principal preocupação era a venda das indulgências.

A indulgência é a remissão (parcial ou total) do castigo temporal imputado a alguém por conta dos seus pecados. Naquele tempo qualquer pessoa poderia comprar uma indulgência, quer para si mesmo, quer para um parente já morto que estivesse no Purgatório. O frade Johann Tetzel fora recrutado para viajar através dos territórios episcopais do arcebispo Alberto de Mogúncia, promovendo e vendendo indulgências com o objetivo de financiar as reformas da Basílica de São Pedro, em Roma.

Lutero viu este tráfico de indulgências como um abuso que poderia confundir as pessoas e levá-las a confiar apenas nas indulgências, deixando de lado a confissão e o arrependimento verdadeiros. Proferiu, então, três sermões contra as indulgências em 1516 e 1517. Segundo a tradição, a 31 de outubro de 1517 foram pregados as 95 Teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, com um convite aberto ao debate sobre elas. Essas teses condenavam a avareza e o paganismo na Igreja como um abuso, e pediam um debate teológico sobre o que as Indulgências significavam. Para todos os efeitos, contudo, nelas Lutero não questionava diretamente a autoridade do Papa para conceder as tais indulgências.

As 95 Teses foram logo traduzidas para o alemão e amplamente copiadas e impressas. Ao cabo de duas semanas se haviam espalhado por toda a Alemanha e, em dois meses, por toda a Europa. Este foi o primeiro episódio da História em que a imprensa teve papel fundamental, pois facilita a distribuição simples e ampla de qualquer documento.


(
http://pt.wikipedia.org/wiki/Martinho_Lutero)

Atualmente vemos que a necessidade de repensar as práticas da igreja é urgente. Não temos mais ninguém vendendo indulgências pelas ruas, mas temos pregadores indulgentes e milionários, diga-se de passagem, oferecendo todo tipo de benefício espiritual e material, em troca de uma oferta generosa. Temos pregadores, estrelas da mídia, cobrando R$ 6.000,00 (sim, seis mil reais!) por uma mensagem cuja cópia depois é vendida pelo preço módico de aproximadamente R$ 30,00 a unidade. Fazem isso esquecidos de que a Palavra de Deus diz: “... de graça recebestes de graça daí...”. Ainda gastam um tempão na mídia ameaçando com todas as pragas do inferno os que não respeitarem seus direitos autorais sobre a inspiração do sermão pregado no DVD e piratearem a Palavra, que deixou de pertencer a Deus, e agora é propriedade autoral dos mesmos.

Lutero amava a Deus, amava a Palavra de Deus e amava a igreja. Foi excomungado, perseguido e até hoje é difamado em certos círculos que não admitem a reforma da igreja, porque ela tira dos que estão lucrando com o erro e o pecado suas fontes de lucro. Também hoje, muitos dos que amam a Deus, amam a Palavra de Deus, e amam a igreja estão em muitos lugares sendo perseguidos e difamados, pois com a reforma da igreja, têm a possibilidade de tirar dos que estão lucrando, com decadência moral e espiritual, sua principal fonte de lucro.

Busquemos em Deus a sabedoria para perceber o que precisa ser mudado em nossa prática eclesiástica, e a coragem para mudar o que ele nos revelar.

Que Deus nos abençoe.

Rev. Renato Barbosa